segunda-feira, 9 de maio de 2011

Surrealismo

O Surrealismo é um movimento artístico e literário que surgiu na França na década de 1920, reunindo artistas anteriormente ligados ao Dadá. Fortemente influenciado pelas teorias psicanalíticas de Sigmund Freud, enfatiza o papel do inconsciente na atividade criativa. Defende que a arte deve libertar-se das exigências da lógica e expressar o inconsciente e os sonhos, livre do controle da razão e de preocupações estéticas ou morais. Rejeita os valores burgueses, como a pátria e a família.

O principal teórico e líder do movimento é o poeta, escritor, crítico e psiquiatra francês André Breton, que em 1924 publica o primeiro Manifesto Surrealista, mas as suas raízes mergulham alguns anos antes. Quase na mesma altura em que se deu a explosão futurista, outros artistas italianos, principalmente Giorgio de Chirico (1888-1978), criaram uma escola radicalmente diferente, conhecida por pintura "metafísica". A maquinaria e o movimento encontram-se ausentes das suas obras, enveredando pelo interesse pelo subconsciente e pelo irracionalismo místico. Durante o período cubista, em Paris, Marc Chagall de origem russa e Chirico, filho de pai italiano e mãe grega, associam na sua pintura elementos reais e irreais, numa antecipação da qualidade onírica dos surrealistas. Chagall, de religião judaica, mantém-se ligado à tradição e às recordações da sua infância numa pequena aldeia russa. Algumas das suas pinturas refletem esse passado, com imagens descontínuas e irracionais, lembrando sonhos e visões onde o mundo parece irreal, sem densidade, opacidade ou peso físico. Utiliza cores espantosas pelo seu brilho e irrealidade. As formas são vivas mas também irreais. Parece um mundo de "fantasmas familiares". O conjunto reflete a influência da arte popular russa, do judaísmo e da Bíblia, que lhe serviram de inspiração. Chirico iniciou-se com a representação de paisagens urbanas onde aparecem edifícios de arcadas, estátuas e uma ou outra figura humana. Depois, experimenta composições mais estranhas e heterogêneas, em que as figuras, colocadas em espaços profundos e desolados, são manequins e outras personagens, compostas de objetos de todos os tipos, fazendo lembrar certas telas barrocas. A colocação das figuras e a projeção das suas sombras criam a impressão de solidão, de irrealidade e de sonho. Estas obras estranhas anunciam já o Surrealismo.

Essa corrente foi fortemente marcada pelas concepções psicanalistas de Freud e no conseqüente estudo do subconsciente. Breton, poeta e fortemente interessado pela psicanálise, imaginou uma nova forma de criação, partindo do reino do subconsciente que Kandinsky e Klee já tinham experimentado, mas introduzindo-lhe um novo espírito e um novo rumo. Estava assim criado o Surrealismo que se encontrava em sintonia com o clima intelectual da época.

Podem distinguir-se dois tipos de arte surrealista: o das experiências criadoras automáticas e o do imaginário tirado do mundo do sonho. O primeiro, tinha como objetivo assegurar a total liberdade criadora. O segundo, oferecia um novo campo de exploração artística, de ordem afetiva e caracterizava-se por uma fantasia abstrata.

As primeiras experiências feitas na pintura automática procuravam eliminar qualquer controle da razão ou do pensamento, libertando desse modo o subconsciente para o envio dos impulsos criadores. Seguiam as teorias defendidas por Freud e Bergson. Esperavam a erupção dessa vida secreta -as riquezas escondidas nas profundezas da alma- e assim alcançar o "maravilhoso", ausente da vida consciente. Para isso, utilizaram vários métodos, nomeadamente a hipnose, em que vários elementos do grupo entravam em transe, sendo registradas as palavras que pronunciavam enquanto estavam nessa situação. Depois, os surrealistas procuraram a combinação do consciente com o inconsciente, da realidade e do sonho para criar uma super-realidade. O artista mantém o figurativo, cuidando rigorosamente o desenho, mas renuncia ao racional para se deixar guiar pela imaginação e pela alucinação. Procuravam representar o "surreal", o que está para além da realidade, ou seja, o sonho, as imagens do inconsciente. Os seus quadros enchem-se de imagens estranhas, semelhantes às dos sonhos, cujo significado nem sempre é fácil de desvendar. Contudo, para muitos pintores, este movimento afirmava a importância do sonho na criação artística, como forma de libertação do espírito, recusando a "arte pela arte". As figuras que mais se destacam são: Salvador Dalí (1904-1989), René Magritte (1898-1967), Paul Klee, Wassily Kandinsky, Joan Miró, Max Ernst, entre outros.

Devido ao fato de este movimento ter como principal objetivo revelar os segredos e as profundidades do mundo psíquico, os artistas podiam servir-se das técnicas e dos princípios de todos os outros movimentos, incluindo estilos mais antigos (arte cretense, micênica e até a arte dos índios americanos ou a dos povos africanos e da Oceania). Inspiravam-se no que as convenções da sua época consideravam "estranho". Foi o que aconteceu com Joan Miró que utilizou símbolos que constituem uma autêntica linguagem hieroglífica. Deve-se ainda acrescentar que o Surrealismo é o resultado da "arte fantástica" e mantém-se ainda nos nossos dias muito vivo. Os surrealistas entendiam que "só o maravilhoso é belo" e por isso, procuravam através da surpresa alcançar uma "beleza violenta", rejeitando qualquer arte que aspirasse à racionalidade e à lógica. Talvez seja essa uma das razões por que tenha influenciado outras correntes que, à partida eram distintas dele, como é o caso da corrente denominada Neo-Romantismo que, embora pouco duradoura, sofreu uma ligeira influência mas os seus seguidores nunca recorreram ao subconsciente. Além disso, este movimento tem imprimido ao longo de várias gerações o gosto pelo fantástico, como acontece ainda nos nossos dias.

No Brasil, o Surrealismo é uma das muitas influências captadas pelo Modernismo. Nas artes plásticas há traços surrealistas em algumas obras de Tarsila do Amaral, como na tela Abaporu, e de Ismael Nery, cuja tela nu mostra uma mulher branca de um lado e negra do outro. No início da carreira, o pernambucano Cícero Dias (1908-) pinta Eu Vi o Mundo, Ele Começava no Recife, obra que apresenta todas as características surrealistas. Entre os escultores, o movimento influencia Maria Martins (1900-1973). Suas peças têm caráter fantástico, como o bronze O Impossível, em que bustos humanos têm lanças no lugar da cabeça.


Confira abaixo algumas imagens sobre o Surrealismo:

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